
O Museu da Língua Portuguesa conseguiu transformar palavras e ideias em coisas para serem vistas e tocadas, com a exposição
Menas: o certo do errado, o errado do certo, aberta ao público esta semana em São Paulo.
As palavras estão em painéis na parede, em jogos de espelhos, em telas de televisão, computadores e tantos outros suportes. E, como dá pistas o título da mostra, todos os textos falam de um assunto do dia a dia: os erros e os acertos do português.
O museu vinha fazendo exposições sobre escritores, como João Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Machado de Assis. Assim, o visitante podia ver os objetos dos autores, além dos textos. Mas, desta vez, o museu decidiu tratar de algo específico da língua: os diferentes jeitos de falar a mesma coisa.
Um dos curadores da
Menas, Eduardo Calbucci, explica que a intenção não é só colocar, de um lado, o que está na gramática (muitas vezes tida como a referência “correta”) e, do outro, o jeito como falamos informalmente (muitas vezes, considerado “incorreto”).
- Queremos mudar a perspectiva do que é certo e errado. Não existe “certo” absoluto. O que existe é o uso adequado da língua, conforme situação de comunicação.
Isso quer dizer que não há nenhum problema em dizer, por exemplo, “eu vi ela” durante uma conversa entre amigos. Mas escrever desta maneira numa prova de concurso público não dá. É melhor usar “eu a vi”, que está de acordo com a norma culta.
Nelson Kataoka, de 25 anos, que visitou a exposição, comenta que já tinha parado para pensar nessas questões, mas que a mostra o ajudou a entender melhor.
- Na internet, eu escrevo de um jeito diferente, abreviando palavras e já me peguei escrevendo “pq” em uma prova em vez de “porque”. Isso não quer dizer que “pq” está errado, mas eu o usei no momento errado.
Além disso, Calbucci lembra que a língua muda ao longo do tempo. O que é popular hoje pode virar parte da norma culta amanhã. Ele dá um exemplo: a gramática prevê que se diga “assisti ao filme”. Mas muita gente fala “assisti o filme”, sem a preposição “a”. Segundo o professor, aos poucos, esta outra forma de falar já vai sendo reconhecida oficialmente.
A exposição defende que as pessoas conheçam e valorizem todas as variações da língua: da fala coloquial à escrita conforme a norma culta.
Instalações
A visitação começa na bilheteria do museu, onde há painéis com frases com erros ortográficos. Essa primeira parte recebeu o nome de Portas Abertas.
A exposição ocupa todo o primeiro andar do prédio. Quando a porta do elevador se abre, o visitante vê uma grande instalação com vidros e espelhos. Por entre aberturas, é possível ver frases, como: “Todos têm sotaque. Ainda bem”.
Um grande painel chama a atenção dos visitantes. Ali, estão expostos cem erros nossos de cada dia. Algumas das frases são: “à partir de maio”, em vez de “a partir de maio”, e “eu não sei aonde ele mora”, em vez de “eu não sei onde ele mora”.
Embaixo de cada sentença há um comentário, explicando por que, muitas vezes, preferimos usar a forma "errada" e o que seria o certo de acordo com a norma culta.
Logo em frente, há computadores, nos quais é possível responder a um quiz com 15 perguntas sobre língua portuguesa.
Uma das partes mais ricas da exposição é a exibição de um vídeo, que explica de forma bem didática as principais ideias da exposição. Uma atriz interpreta quatro mulheres, sempre com o mesmo nome: Norma.
Em cada interpretação, ela fala sobre uma regra do idioma, tem a norma gramatical, a norma lexical (relacionada ao vocabulário), a norma semântica (sobre os significados das palavras) e a norma discursiva (relativa à fala).
A mostra conta ainda com exemplos da literatura brasileira – no espaço chamado de Biblioteca de Babel – que brincam com as palavras e as diferentes variações da língua.
O passeio termina em um espaço com janelas abertas para a região central de São Paulo. Ali, o português popular ganha destaque. Faixas levam para o museu os dizeres das ruas.
Confira imagens das instalações
Serviço
Exposição: Menas: o certo do errado, o errado do certo
Duração: de 16 de março a 27 de junho
Horário: de terça-feira a domingo, das 10h às 17h (bilheteria)
Local: Museu da Língua Portuguesa – Praça da Luz, s/nº, centro de São Paulo
0 comentários:
Enviar um comentário