Pneus furados, vidros quebrados e muitos transtornos para quem depende do serviço público em Fortaleza
Quarenta e dois dias após a última greve de ônibus realizada na Capital cearense, que durou 16 dias, a população de Fortaleza voltou a sofrer com as paralisações dos motoristas e cobradores. No fim da tarde de ontem, vários terminais da Capital foram fechados, causando grandes congestionamentos, tumultos e transtornos para quem depende do serviço público.
A situação mais crítica foi registrada no Terminal de Messejana. No fim da tarde, por volta das 16h30, os manifestantes fecharam o local, deixando muitos trabalhadores sem condições de voltar para casa. Às 18 horas, em pleno horário de pico, o cenário era de caos. Ônibus com parabrisas danificados, vidros quebrados, pneus furados e muita confusão. Na falta de um transporte, muita gente optou por ir embora a pé. Na Avenida Perimetral, no viaduto que corta a BR-116, os populares dividiam espaço com os carros.
A auxiliar de escritório Rachel Araújo Monteiro, 20 anos, contou que vinha no Grande Circular. Quando chegou em frente ao terminal, os manifestantes mandaram parar o veículo e disseram que o ônibus não continuaria. "É um absurdo, isso é uma total falta de respeito com o povo. Como é que a gente vai trabalhar sem ônibus? A gente paga os impostos, a passagem e ainda tem de passar por isso", reclamou indignada. A queixa é a mesma de Yasmin Costa, 18 anos, atualmente desempregada. Ela considerou a paralisação uma falta de respeito com a população. "É egoísmo deles. Eu passei o dia na rua, não almocei e estou aqui toda me tremendo, sem nenhum centavo para ir embora", contou a moça, visivelmente revoltada.
A estudante Lidiane Ferreira, 20 anos, estava com seu filho de apenas 11 meses nos braços. Ela disse que vinha no coletivo quando, no meio do caminho, os manifestantes fizeram o maior tumulto, ameaçaram quebrar o ônibus, pararam o veículo e todo mundo teve de descer.
"Os passageiros ficaram revoltados, disseram que iam roubar o cobrador, que queriam a passagem de volta, porque não iam dar o dinheiro de graça", relatou. Na confusão, ela disse que o bebê se assustou e começou a gritar sem parar. "Ele nunca passou por isso, é um trauma muito grande". Lidiane chegou ao terminal às 17h. Às 19h30, ainda estava à espera de uma carona solidária.
Antônio Bezerra
Engarrafamentos, poeira e muito estresse. Esse foi o cenário mais visível para quem foi obrigado a trafegar no terminal de ônibus do Antônio Bezerra, no fim da tarde e até pelo menos as 21 horas de ontem. Com a paralisação dos motoristas, a fila de coletivos parados se formou por quase três quarteirões antes da entrada do terminal, na Avenida Bezerra de Menezes.
Confusos, os passageiros desciam dos veículos reclamando por não terem sido avisados do movimento com antecedência. O cansaço era visível no rosto de quase todos, na sua maioria, trabalhadores que retornavam para casa após uma jornada exaustiva de trabalho. Para grande parte das mulheres, a queixa de ter de fazer trechos a pé (pelo menos, até conseguir um outro transporte) juntava-se ao temor de serem vítimas de algum furto ou roubo.
"Tenho medo. Aqui, fora do terminal, é um pouco escuro e tem malandro", disse a estudante Fátima Veras Lima, lembrando que telefonou para o namorado pedindo que viesse apanhá-la de moto. Já o estudante Francisco Camelo, 23, aparentava revolta "com tanto engarrafamento e barulho". A revolta também foi a marca da falação de Maria Rodrigues, 72 anos, que optou por ir para casa de mototáxi. "Isso é uma cachorrada. Fui para a igreja e fiquei sem ônibus para voltar para casa", disse.
Nas paradas de ônibus da Avenida Bezerra de Meneses, o clima de transtorno estava estampado também no rosto dos passageiros. "Essa história de greve sem nem avisar foi horrível. A gente precisa de ônibus para se locomover", frisou o pedreiro Paulo de Araújo.
Para a professora aposentada Teresina Silva Santana, 56 anos, fazer paralisação "de surpresa" é uma medida que se volta contra a categoria de motoristas. A educadora acredita que, mesmo o movimento sendo justo, é preciso haver um planejamento para não prejudicar a população que depende dos coletivos da Cidade.
O empurra-empurra nas paradas aumentava sobretudo no embarque nas topiques, que já chegavam aos locais lotadas.
CONDENAÇÃO
Para Etufor, ato foi de "vandalismo"
O presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Ademar Gondim, afirmou que a paralisação realizada por motoristas, cobradores e fiscais, na noite de ontem, é encarada pelo órgão como "perturbação da ordem". Ele garantiu que não houve qualquer comunicação do ato por parte dos trabalhadores. "O mínimo que esperamos é que todos cumpram o seu papel neste processo", disse.
Conforme Ademar, a última greve da categoria, que durou 16 dias, foi considerada abusiva pela Justiça do Trabalho. "A Prefeitura não vai penalizar toda a Cidade por conta de apenas um grupo de trabalhadores". Durante toda a gestão da prefeita Luizianne Lins, assegurou Gondim, os reajustes para motoristas e cobradores foram sempre acima da inflação. "Os ganhos da categoria, aqui, estão dentro da média nacional", explicou.
Ademar contou que a Guarda Municipal e a Polícia Militar foram acionadas para atuar conforme é exigido em "casos de vandalismo como este". Ele revelou que as imagens dos terminais serão analisadas para que as responsabilidades sejam apuradas. "Além disso, vamos continuar monitorando a situação e tomas as medidas cabíveis". A Etufor teve de remanejar linhas e ônibus extras para tentar minimizar os transtornos aos passageiros. Só hoje é que será possível avaliar os danos e saber quantos usuários foram prejudicados pela paralisação.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Sindiônibus) informou que considera a paralisação ilegal e que desobedece determinação do Tribunal Regional do Trabalho, que estabeleceu multa diária de R$ 30 mil pelo ato.
Suspeita-se que o protesto dessa quarta-feira tenha sido motivado pelo fato de empresários terem descontado, dos salários dos funcionários, os dias parados. O Diário do Nordeste tentou contato com integrantes do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Ceará (Sintro-CE) para saber de novas paralisações, mas, até o fechamento desta edição, não obteve sucesso.
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